sábado, 31 de janeiro de 2009

1) Neste primeiro bloco, eu traço um rápido perfil da minha personalidade na infância e adolescência, e descrevo a experiência que deu início a tudo.


A minha intenção nesse primeiro bloco é fazer o espectador me conhecer até eu completar 18 anos. Simplesmente isso. Sem esse ponto de partida, a percepção do ambiente no qual as experiências sobrenaturais acontecem ficaria distorcida.

A descrição da "comunicação" comigo no episódio do roubo da prancha está mal contada e pouco descrita. Na verdade, quando eu comecei a correr entre a multidão eu já "discutia" com "alguém" ao repetir seguidamente, pra mim mesmo e chorando: "Por quê, então, essa prancha??? Por quê???". Eu repetia isso enquanto a minha mente já havia sido tomada pela informação de que a minha vida seria outra coisa e que eu era uma outra coisa muito diferente daquilo que eu pensava ser ou pretendia ser. Sei lá como, eu conhecia aquilo que falava comigo naquele momento de choque e tensão. Eu sabia quem eram "eles". E sabia que "eles" tinham "razão". Mas eu continuei insistindo na pergunta: "Mas por que a prancha??? Por quê???"
Foi então que aconteceu aquilo que conto no filme. Diante do meu desespero e resistência em aceitar que eu seria outra coisa e teria outra vida, eu senti que "aquilo" que falava comigo havia se irritado e perdido a paciência. Nesse ponto aconteceu a comunicação verbal bem no meu ouvido: "O recado tá dado!!!"
E assim que a "coisa" se retirava com rispidez, a sensação de congelamento da minha emoção me fazia parar de correr e apenas ficar olhando em volta, atônito.
2) A transformação do desenho tem início, mas o foco principal não é o desenho em si. Há emoções associadas à criação artística cuja origem é a chave daquilo que está me envolvendo.
3) Finalmente eu me deparei com o ponto central da coisa toda. Sem ter como fugir da lógica avassaladora dos fatos e da emoção que emergia de tudo aquilo, finalmente eu me coloco na direção da arte e procuro nela a prova definitiva da minha identidade.




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4) Mergulhando num labirinto que misturava realidades psicológicas em dimensões paralelas a esta, eu vou perdendo contato com a vida que conhecia e começo a entender que há um outro universo, sem fronteiras de passado, presente e futuro.
5) Na fase mais obscura de todo o processo de busca da identidade, todos os limites desta realidade física são diluídos pela comunicação constante com um outro lado sempre a explicar a situação pela qual passava.
6) Quando tudo parecia sem sentido e o trabalho de busca pela identidade não dava em nada, eis que um sentido para o futuro surge e um lugar natural para tudo se revela.
A primeira ideia que ocorre a quem toma contato pela primeira vez com a minha estória é explicá-la através do conceito da reencarnação. Eu já escutei todo tipo de explicação nessa linha. Na verdade, foi a primeira explicação que me lembro de ter escutado. Por força de experiências descritas como similares a minha (mas que na verdade não são), a "normalidade" da minha situação era estabelecida por ligações de vidas passadas com Michelangelo. Regra geral, a explicação encontrada por todos os espíritas era de que eu teria uma ligação tão intensa com Michelangelo que eu nem teria consciência disso. Não me lembro de uma única vez ter sido sequer levantada a hipótese de eu ser uma reencarnação do Michelangelo. Pelo que entendia na época, eles descreviam Michelangelo como um espírito tão elevado e conhecido que eu jamais poderia ser ele, até porque eles sabiam do paradeiro da alma dele. Lembro-me com clareza de descrições a esse respeito, onde toda a trajetória de reencarnações do Michelangelo era de amplo conhecimento entre eles, os espíritas.
No começo do surgimento da arte, de 1980 a 1982, eu pouco me importava com toda essa fantasia a meu respeito. Mas depois do episódio da banca de jornal, na Rua Real Grandeza, quando a emoção que senti acabou com qualquer dúvida a respeito da minha identidade, mas que nem por isso eu deixei de pesquisar a autenticidade de tudo à minha maneira, eu passei a ignorar a opinião de terceiros por que estava claro demais que não havia como eu explicar tudo o que estava vivendo.
E a minha tia, espírita, com o intuito de me fazer desistir do caminho que tomava na época e me convencer a buscar o meu sustento (o "vil metal", nas palavras dela), foi no centro espírita dela buscar uma resposta definitiva a meu respeito. Tudo o que eu falava pra ela sobre a lembrança que eu havia tido da morte da tal Vittoria Colonna caía no vazio. A minha credibilidade era nehuma. E a resposta que ela me disse que ouviu no centro espírita foi um primor: "nem que sim e nem que não, impossível saber". Lembro-me de como ela ficou sem graça ao me dizer isso, afinal ela esperava um "não" definitivo para me trazer de volta a realidade da vida, da família e ect e tal. E eu me lembro de como lamentei de não ter escutado uma resposta negativa. Eu queria muito "enfrentá-los" a todos e mostrar que a minha experiência não estava acessível à ignorância deles. Não queria aliados. Nunca gostei de gente se metendo naquilo que havia surgido para mim quando li o trecho na banca de jornal sobre a "famosa Vittoria Colonna". Eu sabia que o que estava vivendo escapava das imbecilidades repetidas à exaustão por aquela gente amiga da minha tia.
Mas agora, depois de três décadas de envolvimento com essa outra dimensão que me acompanha, depois de viver todas as comunicações imagináveis e entender a mecânica emocional da arte que faço por puro efeito colateral do sou, o que tenho a dizer sobre essas explicações espíritas (há muitas outras de outras linhas filosóficas) que escutava no início dos anos 80 é desconcertante.
Só pra começar, eu lamento dizer que jamais a palavra "reencarnação" surgiu em meio a qualquer situação que vivi. Não estou dizendo que esse conceito seja falso, mas tenho que ser claro. Nunca "entendi" ou "ouvi" uma única menção a essa ideia. Só há um único sonho que pode ser interpretado nesse sentido: o sonho dos "U" invertidos que descrevi no documentário.
Mas ficou muito clara para mim, nesse sonho, além de uma sucessão de vidas da qual a vida de Michelangelo seria apenas uma, como também a situção em que eu, ao estender a minha mão para tirá-lo do mar, permitia que a minha vida atual fosse dele também. É muito claro no final do sonho que eu e ele fomos unidos em um único ser.
Se eu estou deixando de ser Eurico Poggi e Michelangelo Buonarroti voltou a ser não é a questão. O meu problema sempre foi eu aceitar essa minha natureza e vivê-la plenamente, sem segredos ou medos. Apenas ser, sem me sentir obrigado a disfarçar nada.